31 de mar. de 2014

Mulheres

Foram dias e dias de dores e lágrimas.
Os rios de água salgada logo se secaram
Depois, entretanto, encheram-se denovo
Ao som das palavras das vozes femininas
- eu te amo / não ligo pra você
Se pelo menos meu coração visse que é hora de parar
E realizar que este é o momento de ler o poema na vertical...

Simphonya Sexualis

Deito-me no quarto escuro, irritado, triste, me colocando em posição fetal debaixo doscobertores como se isso fosse me levar novamente à segurança doventre da minha mãe. E enquanto me apertava em fúria contra mim mesmo, sons de música tocam minha pele, e nesses sons sinto um homemquerendo me amar.
Este homem sussurra palavras de conforto no meu ouvido enquanto suas mãos translucidas se escondem por baixo das minhas roupas e passeiam pelo meu corpo.
Sua boca de sussurros inaudíveis encontra o meu pescoço enquanto seus dedos brincam com meus mamilos. Minhas costas se arcam enquanto caio na cama segurando os lençóis com força para não deixar soltar esses gemidos de prazer.
Mordo meus lábios e respiro fundo como uma mulher pronta para a cópula e praticamente implorando por ela.
Suas mãos descem cadavez mais até chegarem entre minhas pernas e elas brincam com meus lábios me excitando como nunca havia sido exitada antes.
Meu amante imaginário coloca então sua música dentro de mim, e eu o abraço fazendo de tudo para não chamar a atenção de quem quer que estivesse fora do quarto.
Ele não me estoca, como aconteceria em ocasiões de sexo mais normais. Ele me toca como se eu fosse um violino e ele estivesse fazendo a 25ª Sinfonia do Mozart.
Seus lábios me beijam, seus dedos me percorrem, e no ápice do nosso amor as escuras.
Percebo que estousozinho no quarto.
Não tenho seios.
Não tenho uma vagina.
Ainda tenho a voz de umtenor.
Ainda estou vestido.
E estou completamente sozinho num quarto escuro.

Pelo menos eu tenho o cheiro de uma mulher que acabou de tranzar.
E por mais esquisitoque isso seja, é reconfortante ver que pelo menos o cheiro ficou.

Domingo Nublado

O arco toca nas cordas, e se arrasta nela enquanto os dedos do violinista brincam de tocar piano no cabo do instrumento claramente desafinado.
Notas saem errado de propósito, enquanto as cordas vocais do artista soltam o choro de uma mulher que força sua existência na realidade.
Não existe ritmo na sua sinfonia de dor, apenas uma melodia tão abstrata quanto o ser que a toca.
Suas mãos são grossas e rigidas, e tocam o violino com violência mortal, enquanto que entre soluços e lágrimas, a dama de sua voz tenta criar uma melodia que faça sentido para ela mesma.
Essa criatura tira suas melodias de horror do fundo de suas memórias mais terríveis. De dor, sofrimento e tristeza, tal qual apenas uma criança monstruosa como ela poderia ter sofrido. De sofrimento, tristeza e dor dos seus amigos que deixavam a criatura se alimentar de sua escuridão. De tristeza, sofrimento e dor dos seus companheiros de loucura em asilos de tortura.
Os demônios que lhe cortaram e lhe mataram tantas vezes, retornam para lhe fazer amor, encorporando no violino que geme de prazer.
Quanto mais memórias se reunem, mais caótica se torna a melodia, e a impressão de que ela jamais se acabará.
A criatura está, finalmente, plenamente feliz.