11 de jan. de 2012

Pierrot


O palhaço preto-e-branco chora uma lágrima de melancolia enquanto seu violino ressoa um silêncio absoluto e agonizante, e fantasmas e sombras vinham ao encontro da melodia surda.
Essa imagem me assustou de forma fazer-me perder a razão. O medo dos medos que encontraria dentro dos medos do Pierrô pôs-me a correr longe da escuridão e em direção à luz.
A luz brilhava ardente nos meus olhos com a intensidade cegante de mil estrelas.
Quando cheguei à fonte da luz vi pessoas rindo e sorrindo, indo de encontro ao hino de felicidade que o palhaço colorido compunha no seu violino.
Resolvi aproximar-me de festança tão feliz. Estendi um dos meus braços e comecei a ir em direção deles. Até o ponto que não podia mais avançar. Cheguei perto demais.
Olhei para o meu braço e ele estava envolto em chamas, as quais se alastravam lentamente pelo resto do meu corpo.
Eu gritava por ajuda, mas ninguém parecia ouvir. Minhas lágrimas de dor se evaporavam com o calor do fogo, mas todos continuavam dançando e cantando a música do Arlequim, que para mim já soava como as cordas de um violoncelo desafinado se rompendo.
Resolvi que tinha que sair dalí logo. Eles não iriam me ajudar.
Corri para longe da luz, mas só encontrei novamente o pobre Pierrô, sentado no chão olhando para baixo.
Ele era minha única esperança naquele momento de desespero. Aproximei-me com cautela e relutância.
Chegando perto o suficiente Pierrô. Ele levanta sua cabeça de forma tímida e me olha com os seus olhos de uma tristeza tão profunda quando o universo. E quando percebo que a angústia que cresceu em mim era mais pesada que a dor das queimaduras, vejo meu braço intacto, como se nada tivesse acontecido.
Ele, sem falar uma palavra, me convida a me sentar ao seu lado. E ainda que relutante aceitei seu convite.
A tremedeira do meu corpo naquele frio desumano era clara ao Pierrot, que ofereceu-me gentilmente um cobertor.
Cobrindo-me, agradeci a sua gentileza.
Fecho os meus olhos, e o silêncio que antes trazia-me dor e angústia transforma-se na mais bela sinfonia de cordas jamais ouvida por um mortal, e aquele momento durou para sempre.