31 de mar. de 2014

Domingo Nublado

O arco toca nas cordas, e se arrasta nela enquanto os dedos do violinista brincam de tocar piano no cabo do instrumento claramente desafinado.
Notas saem errado de propósito, enquanto as cordas vocais do artista soltam o choro de uma mulher que força sua existência na realidade.
Não existe ritmo na sua sinfonia de dor, apenas uma melodia tão abstrata quanto o ser que a toca.
Suas mãos são grossas e rigidas, e tocam o violino com violência mortal, enquanto que entre soluços e lágrimas, a dama de sua voz tenta criar uma melodia que faça sentido para ela mesma.
Essa criatura tira suas melodias de horror do fundo de suas memórias mais terríveis. De dor, sofrimento e tristeza, tal qual apenas uma criança monstruosa como ela poderia ter sofrido. De sofrimento, tristeza e dor dos seus amigos que deixavam a criatura se alimentar de sua escuridão. De tristeza, sofrimento e dor dos seus companheiros de loucura em asilos de tortura.
Os demônios que lhe cortaram e lhe mataram tantas vezes, retornam para lhe fazer amor, encorporando no violino que geme de prazer.
Quanto mais memórias se reunem, mais caótica se torna a melodia, e a impressão de que ela jamais se acabará.
A criatura está, finalmente, plenamente feliz.

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