31 de out. de 2013

Filho do Demônio

"O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO, Ó MEU SENHOR?!" "Não foi nossa culpa! Foi um acidente!"
Foi a reação da mãe recém-parida e do pai recém-casado ao verem o Filho do Demônio, que tinha acabado de sair do útero da mulher. Eles estavam se divertindo na noite da troca de genes, nada disso era pra ter acontecido, pelo menos não dessa forma. Qual pecado justificaria tal punição?
O Filho do Demônio era um menino albino com um corpo minúsculo e esqueleticamente magro do qual saiam 2 cotocos no lugar das pernas, 2 coisas que pareciam galhos de árvore seca no lugar dos braços, e uma cabeça anormalmente gigantesca.
A cabeça chegava a ser assustadora. Olhos castanhos e esbugalhados, pelos perdidos no topo da cabeça, uma grande cicatriz dividindo o seu encéfalo no meio e um nariz tão pequeno que nem parecia estar lá. E ainda mais: sua pele era fina, o que fazia suas veias saltarem em linhas vermelhas e azuis espalhadas pelo corpo todo.
Nesse momento de julgamento e punição, os pais do Filho do Demônio eram observados de todos os lados. Os olhos dos médicos cruzavam os seus, dos parentes, dos outros pacientes, até mesmo os espíritos os observavam, e tomaram o filho, que era do demônio, como seu.
Em casa, a união indesejada fez com que sangue fosse jorrado. A luta foi brutal, e se fosse uma guerra, cabeças teriam rolado nos azulejos da cozinha.
Foi uma guerra.
E os gritos da batalha eram ouvidos, e processados, pela cabeça do Filho do Demônio.
A mãe ganhou a batalha, e ergueu seu filho, que era do demônio, como um troféu da independência feminina. E o Filho do Demônio passou a ter medo de altura.
A mãe expulsou o pai a tapas, e aprendeu a tolerar um monstro, tal qual o Filho do Demônio, como seu filho. Mas jamais conseguiria amar algo tão alienígena quanto ele. Aquele que deveria ser o Filho do Demônio. E se ele chorasse, era só bater para fazê-lo parar.
O Filho do Demônio cresceu com medo e rancor. Sua alma ficou tão cheia de ódio e maldade que sucumbiu.
Na manhã seguinte ele estava morto.
Na noite a seguir, ele estava bem vivo.

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